Mais conhecido pela sua carreira como ator, Jesse Eisenberg (A Rede Social) é roteirista e diretor de “A Verdadeira Dor”, filme que saiu do Festival de Sundance com um prêmio de roteiro, protagonizado pelo próprio e por Kieran Culkin (Succession). A obra conta a história de dois primos, antes bastante próximos, hoje afastados pela vida, que se reúnem para uma viagem à Polônia após a morte da avó. Abrangendo temas como luto e depressão, o filme fala sobre as dores que por vezes mascaramos e encontra uma maneira sensível e histórica de falar sobre perdas e distanciamentos.
O personagem de Culkin se aproxima muito do Roman Roy que conhecemos em Succession. Benji Kaplan é um sujeito extrovertido, sem filtros e muito espontâneo, o qual esconde, em certo grau, uma tristeza no olhar. Eisenberg também interpreta um personagem mais próximo do seu histórico, David Kaplan é o oposto de Benji: introvertido, introspectivo e muito mais calculado em suas ações. Enquanto ambos tentam equilibrar o comportamento um do outro, também acabam se encontrando nas diferenças essenciais que possuem.
Na direção e no roteiro, o filme de Eisenberg deixa transparente sua inspiração no cinema indie norte-americano, de onde surgiu, ao concentrar sua narrativa em um processo intimista, o qual cresce também com o seu olhar sobre a cidade e as histórias que os muros, as praças, os campos de concentração e as câmaras de gás contam. É uma viagem para dentro de si, tanto sob o ponto de vista de refletir uma dor ancestral, quanto sob o viés do processo de luto que ambos passam pela perda de uma das figuras mais importantes de suas vidas.
Durante as andanças dos primos Kaplan pela Varsóvia, junto aos diferentes personagens que embarcam na mesma “city tour” e seus backgrounds, Benji e David entram em contato com suas raízes judaicas e se aproximam deste traço que compartilham, enquanto dividem, pela primeira vez em anos, parte de suas vidas um com o outro. Culkin e Eisenberg são atores excepcionais, não há o que negar quanto a isso, mas a direção, ao dar atenção aos pequenos detalhes, incluindo os trejeitos de cada um e inclusive imbuindo o filme de um dinamismo interessante (a cena da foto com os guardas, com a câmera na mão), enfatiza a sintonia que estes possuem e o quanto existe uma preocupação honesta um com o outro. O roteiro que segue um certo ritmo nas gags e falas atropeladas, corrobora com tudo isso e imprime ainda mais intimidade e carisma à relação dos dois.
A obra é o exato tipo de filme que eu esperaria ver no cinema de baixo orçamento estadunidense nos anos 2010 e talvez seja por essa razão que tenha me ganhado tanto. Parece que a honestidade e a simplicidade do filme garantem uma emoção mais direta e incrivelmente mais complexa, uma coisa também bem “Hong Sang-soo”. Para mim, de volta aos EUA, é como se Alexander Payne se unisse ao cinema de Richard Linklater, para elaborar um filme tão leve quanto “Sideways” (2004) e “Antes do Amanhecer” (1995), com poucos personagens, muitas conversas jogadas fora e uma viagem e/ou uma cidade que tem o potencial de mudar mundos, mesmo que aparentemente não tenha mudado nada.
Encerrando a jornada exatamente do mesmo lugar começou, a câmera fecha no rosto impassível de Benji no aeroporto, um lugar de transição. É bonita essa ideia, uma pessoa perdida em um ambiente onde as pessoas estão apenas de passagem. Quando se despede do primo, ele diz “eu vou ficar bem”, como se realmente fosse apenas uma fase. Uma fase que logo passa. É o abraço familiar, o lugar seguro que lhe escapa assim que senta em uma cadeira para observar a vida de tantos desconhecidos que vêm e vão. Uma obra sobre família, sim, mas acima de tudo sobre as fases difíceis que precisamos acreditar que vão passar.
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