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Foto do escritorFabiana Lima

Conclave sobe muros para enfatizar mistérios e contradições do catolicismo.

A dúvida acompanha a fé, pois quem muito tem certeza não deixa espaço para o mistério. 

O mistério fortalece a Igreja Católica. Como uma das instituições mais antigas, corruptas e poderosas do mundo, a prioridade máxima sempre foi a manutenção do mistério que se perpetuou por trás dos seus rituais, opulência e influência política. De portas fechadas para o mundo, o catolicismo se manteve imbatível por milhares de anos em razão da maneira como suas sombras se fortalecem, ano após ano, sob o pacto inabalável da fé.


Em Conclave (adaptação do livro homônimo de Robert Harris), Edward Berger explora as sombras da instituição sob uma trama política a qual, por meio da eleição de um novo papa, escancara a necessidade de renovação do catolicismo no mundo moderno. Afinal, você não precisa ser católico para saber que a Igreja tem perdido espaço, cada vez mais, para o protestantismo e outras religiões ao redor do mundo, sendo obrigada a adotar discursos cada vez mais liberais sobre homossexualidade, intolerância religiosa e direito das mulheres, ainda que isso crie tensão com sua ala conservadora. E o filme sabe bem como explorar isso.


Lawrence (Ralph Fiennes), o decano responsável por liderar o conclave, ritual que sucede à morte do papa, se vê diante dessas duas forças antagônicas: o liberalismo e o conservadorismo. Quando o personagem tem acesso a rumores crescentes de diversas conspirações políticas, envolvendo nomes de diferentes cardinais, precisa fazer escolhas entre o que é certo e o que é errado para o futuro da santa igreja - ainda que essa seja a última tarefa que gostaria de fazer. 


As dúvidas que o atormentam, contudo, não dizem respeito à fé, pelo contrário, dizem respeito à religião e à forma como as portas da igreja se fecham para o diálogo que realmente importa, uma cisão para com o mundo, a qual escancara o egoísmo e ambição dos homens de vestimentas sagradas em se tornarem papas. Em chegarem ao poder. Nesse sentido, a fotografia trabalha bem em impor o distanciamento destes homens, criando escalas que permitem uma relação mais austera com o ambiente, utilizando a arquitetura no cinema e a suntuosidade da igreja para enfatizar as relações distantes e frias que os homens da própria instituição semeiam uns aos outros e para com o mundo além dos muros.

Trabalhando com a principal cor do Catolicismo, o vermelho, o diretor de fotografia Stéphane Fontaine cria contrastes deslumbrantes de serem observados, especialmente em relação ao azul, criando visualmente um embate entre as forças antagônicas políticas e, também, entre o que há de sagrado e profano, entre o homem e o mistério da fé. O desenvolvimento de sua conclusão, por outro lado, deixa a desejar ao recorrer a uma saída não tão elaborada, muito embora ainda valha pela forma como dialoga com a presença do fantasma do papa falecido, que paira sobre o filme inteiro com peso enorme e, claro, com a islamofobia e outras muitas fobias que ainda fazem parte da igreja.

Os grandes nomes presentes no filme, como Stanley Tucci e Isabella Rossellini, dão um peso significativo à trama e elevam a performance de Ralph Fiennes ainda mais. Me agrada como o ator compreende as nuances do seu personagem. Lawrence sempre parece carregar o peso do mundo em suas costas. Ele percebe sua missão e a aceita mesmo com dúvidas, se tornando um personagem bíblico em meio a um compilado de judas e falsos messias. Berger retorna melhor do que em seu trabalho anterior, Nada de Novo no Front, em um filme onde a primazia pelas imagens e o perfeccionismo de fato acrescentam valor à trama e, ainda que soe burocrático, deslumbra nossos olhos, sabendo o que fazer e onde quer chegar. 


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