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Pálido Ponto Vermelho (Novíssimo Cinema Paraense)

Foto do escritor: Fabiana  LimaFabiana Lima

O found footage é inevitavelmente associado aos filmes de terror e ficções científicas, especialmente de baixo orçamento, pela forma com que apenas o diferente tratamento de imagem já tem o poder de provocar sensações distintas no espectador. Seja em “A Bruxa de Blair”, icônico filme de terror de 1999 que mudou paradigmas do horror e inaugurou esse subgênero no cinema, ou mesmo em filmes mais recentes como “A Visita” de M. Night Shyamalan que utiliza dofound footage para discutir a encenação no cinema, a verdade é que a distorção imagética por si só já causa arrepios - se você entender o cinema como linguagem.


Quando a imagem se une à distorção sonora, a partir do ruído branco e da microfonia, filmes como “Pálido Ponto Vermelho” apresentam a possibilidade de levar o subgênero além, viabilizando uma narrativa que caminha justamente por esses dois gêneros, o sci-fi e o terror, extremamente importantes na história do cinema e terrenos férteis para a criatividade. No curta de aproximadamente 20 minutos, a inserção de um contexto jornalístico e televisivo melhora ainda mais a abordagem do filme, no que tange a dar uma dimensão mais credível para o espectador, dentro das possibilidades de uma narrativa ficcional, para a situação apresentada no princípio da obra.


De certa forma, a criatividade e os pontos pelos quais o filme passa me lembraram bastante de um outro curta-metragem que gosto muito, o “Recife Frio” de Kleber Mendonça Filho. Ambos se utilizam de recursos parecidos (o contexto jornalístico e televisivo e o diferente tratamento de imagem) a fim de atingirem fins similares, o que proporciona essa associação inevitável. Outro curta parecido, também, é o “Missão Perséfone” de Karim Ainouz, o qual narra uma terra abandonada após uma catástrofe ambiental em um futuro distante.


No entanto, é importante pontuar que todos esses recursos são o que menos importa se não souber como usar. Nem em “Pálido Ponto Vermelho” nem em nenhum destes filmes citados, o found footage seria verdadeiramente eficaz não fosse pelo tratamento dado às suas possibilidades criativas. Em todos os casos, todos os filmes citados se apropriaram de um contexto local, das nossas próprias paisagens e conflitos, a fim de criar narrativas distópicas com baixo orçamento. É criatividade.


Existe, parafraseando o texto de Maya Deren, um “uso criativo da realidade” a partir dessas diferentes formas de criar no cinema. O que pode ser a primeira vista bastante simplório, pode ser extraordinário - e esse é um dos maiores méritos deste curta-metragem. A canção “Último Dia” de Paulinho Moska representa, assim, um ótimo encerramento para “Pálido Ponto Vermelho”, levantando questionamentos sobre a efemeridade da vida e a imprevisibilidade dos desastres ambientais em uma obra que só poderia surgir em um contexto pós-pandêmico.

 
 
 
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