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Foto do escritorFabiana Lima

Shakespeare, reality show e mockumentary: o que explica a fórmula Succession?

A vida que você queria ter... mas nunca terá.


Na era dos super ricos, nepobabies e redes sociais que exalam glamour e dinheiro por meio de unboxings que você provavelmente nunca terá o prazer de fazer toda semana, Succession funciona como se fosse um reality show de tão bem ambientada que se torna a vida surreal dessa família bilionária. Diferente de muitas produções, Succession realmente parece entender o dia-a-dia dessas pessoas e sabe como mostrar isso e inserir o espectador nesse universo sem qualquer esforço. De repente, você também sente que é possível pousar seu helicóptero em um iate. No meio do mediterrâneo.



Mockumentary: o estilo da direção.


Para aumentar ainda mais a nossa proximidade com os Roy, a série se utiliza de um estilo de direção peculiar - mas não muito. Com muita câmera na mão e vários zoom in, a linguagem da série se aproxima muito dos famosos mockumentary, visto em séries como The Office e Parks and Recreation. O formato que ficou popular em sitcom é adotado em Succession sem a quebra da quarta parede, mas confere uma veracidade e proximidade com o espectador quase tão convincente como se um documentário fosse. É esse tipo de efeito que faz o humor constrangedor, que beira o antiético da série, funcionar.


Uma história Shakesperiana e uma nova forma de contar.


Não tem história que não tenha sido contada antes, a diferença mesmo é a forma como se conta. Se os conflitos humanos, essencialmente, sempre serão os mesmos, então Shakespeare os gregos já escreveram sobre tudo que podia: da ganância e traição, ao afeto e desejo. Succession tira inspiração em Rei Lear para montar uma história tragicômica moderna, onde ao invés de um império territorial, lidamos com um império da comunicação e da mídia, um conglomerado enorme, que será dividido entre os herdeiros - mas não sabemos como. Enquanto isso, eles lutam para provar para o pai o quanto merecem. Uma grande novela.



Fórmula dos deuses: Jesse Armstrong e sua epifania.


Juntar essas três características, aparentemente distantes, em uma série coesa, faz com que Succession tenha a força de um The Office, em seus alívios cômicos nada leves, a força dramática de uma Família Soprano ou Mad Men, com arcos e personagens muito bem definidos, e um vislumbre da vida que nunca teremos digno de um reality show. Um Real Housewives of Beverly Hills. Você quase, QUASE, acredita que poderia viver como os Roy. Mas no funco, você ainda os despreza. É um sentimento dúbio, complexo e apaixonante. Como é Succession, se fôssemos resumir.

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